quinta-feira, 6 de novembro de 2014

E, Se

Trancada em correntes , fico pensando como seria, e se naquela noite você tivesse olhado para trás, e se naquele instante você tivesse visto que meus olhos derramaram as lagrimas mais pesadas e ficaram mais escuros do que nunca.
O que teria feito?
Duas palavras tão distintas, porém quando se juntam tem o poder de mudar uma história.
E, Se
E se, e se você tivesse desistido das escolhas fracas e passageiras e permanecesse ao meu lado?
Pois naquela hora, me sentia tão fraca que mal poderia respirar ao realizar que sua escolha não  era  minha.
E se, e se você tivesse  resistido e ido contra os ventos contrários?
Lembra que eu te pedi isso?
Para nunca deixar nosso amor sofrer, prometemos cuidar dele, prometemos.
"Nunca quebre suas promessas", "nunca quebre suas promessas". Foram os únicos sons que consegui ouvir enquanto ainda me sentia anestesiada.
Sou tomada por um torpor que me impede de ser forte.
No meio da noite, arrastando correntes trancafiada em meu mundo, me perdi de mim.
Já não me sentia insensibilizada, apenas fraca, extremamente fraca ao perceber que tudo está por um fio, se não nos propomos a cuidar do nosso jardim, quem o fará por nós?
O problema é que nosso jardim nem sempre é só nosso, requer cuidados alheios, é terceirizado. Não depende de nossa delicadeza somente.
Foi assim, e, se, e se, nos perseguindo, tenho uma pequena idéia do que seria se esse "e se!" tivesse procedido ante nós, serviria como um mural protetor, nada passaria, somente eu, você, nosso amor.

E, se.

Mas quem sou mesmo?

Eu quero tanto chorar. Eu não sou mais criança e durmo com a cabeça coberta. Eu sou adulta e gostaria que você me colocasse no colo. Eu sou mulher e gosto de comer pipoca no cinema, na verdade, eu amo cinema. Eu sou criança , mas tenho tantas responsabilidades, e elas não param de se multiplicar.
Existem momentos do ano é possível colocar sua mão em meu peito e atravessá-lo. É porque eu viro como um espectro e sombra, um sonho de mim mesma, uma reinvenção. Daí eu pego em sua mão e você pode atravessar a carne e o músculo e procurar o pequeno beija-flor asmático, como a dona dele. Ele tanto bate, tum-tum-tum, quanto tosse,culpa dos cigarros que nunca fumou.
Desse modo, você se assusta, larga o pequeno pássaro um tanto quanto sem jeito, e ele fica sem graça em sua falta de perfeição e beleza. Ele quer ser belo, e não consegue. Logo ele, que devia ter tanta graça, agora nem sabe direito se é pássaro, se é vida, se é amor, se é vazio, se é o que é que se é.
Faz assim, dê a volta, como se o mundo fosse essa avenida até o seu fim, e de lá grite meu nome para que então eu tente ouvir. Entre todas as pessoas, que falam e esquecem, entre todos os carros que não têm para onde ir, entre todo esse caos que é o mundo às nove da manhã, eu ainda desejo te ouvir.
E me diz, por favor, você que já andou o mundo e chegou até o fim, se é verdade que existem monstros horríveis aí, ou se eles estão todos atrás de mim, no meu quarto, no meu armário e embaixo da cama.
Diga logo, me ajude, eu não consigo te ouvir, o pássaro se assusta e pode me levar embora, eu tento pegá-lo e não consigo.
Hoje eu sou de carne e músculo.
Tum! É só um carro que atropelou a vida.


Talissa Santana