sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Intitulado

"Não quero mais sentir". Foi o que afirmou, com os olhinhos inchados de quem há dias não parava de verter lágrimas. "Me prometa que vai parar de doer, e que daqui um tempo, o que passamos não significará mais nada. Quero chegar no estágio em que tudo será como se nunca tivesse jamais existido". Lamento, não somos computadores. Não dá para desinstalar um programa, magicamente. O que passou fica, nos compartimentos, para sempre. O que muda é o significado. Algumas coisas, simplesmente, perdem a importância. É apenas questão de tempo. Sentimentos vão além do que se pode explicar: "Diga que a melodia é alegre ou sombria; ela estará sempre além ou aquém de tudo que se possa dizer a seu repeito".
Acordou cedo. Tomou café: suco, pão com manteiga e pão de mel. Risadas com uma menininha que sua mãe cuida. Segue, satisfeita, em boa companhia. Almoçaram deliciosos e crocantes bolinhos de arroz. Devorou uma deliciosa salada verde. Provou seu lindo vestido: azul e rodado. Cinema. DVD. Hoje foram dois filmes. Filmes a fazem feliz. Gosta de rir. Bem alto. De coisas que a satisfazem. Do ano de 1960. Do bolo com cobertura de mousse de chocolate; foi ela quem escolheu na padaria. Considera cada vez mais suas sensatas escolhas. Aprecia momentos de realidade. Mas não esquece de sonhar. Ensina. Aprende. A admiração é recíproca. A troca é intensa. Concordam, discordam, convivem. 
Chegou, leu seu jornal, tomou banho, jantou. Sentou no sofá e chorou um pouco. Não por nada. Foi apenas por tudo.

Talissa Santana

Chega

Ele, para ele, sempre havia um começo.
Vivia a planejar.
Voava, voava, voltando sempre para o mesmo lugar.
Se tentavam lhe alertar, logo tratava de assegurar:
- Quando tudo estiver pronto, volto a relaxar!
Mas, assim mesmo era que vivia num desassossego. Esperava pela certeza para seguir. Não lhe avisaram que era bobagem, viveria a esperar, simples assim. Bobagem, porque "A Certeza" deveria sempre vir acompanhada de um “s”, já que não é única, estão sempre se transformando, na velocidade em que mudam os pensamentos. Estão longe de universalidades estáticas, cartilhas prontas que aprendemos como imutáveis.
Ele jamais deu um passo em falso, perigava cair. Não lhe disseram que da queda se levanta? Esqueceram de lhe avisar que a vida não é só problemas, nem tão simples assim, mas bela e leve, dependendo de você. E continua lá, sentado, planejando, esperando que tudo se ajeite para arregaçar as mangas e, dessa vez sim, colocar os seus planos em prática. Afinal, foram muitas resoluções para 2014, fez, inclusive, uma listinha . Certamente, os planetas se alinharão, o horóscopo não mente jamais, ganhará aquele aumento ,o chefe chato será demitida , e ele poderá demonstrar todo o seu brilhantismo, o time será tri-campeão, a namorada passará a ser menos chata, e, aí sim, tudo estará perfeito, simples assim.
 Pare de procurar eternamente; a felicidade está bem ao seu lado.
Se alguém tão sábio me avisou... Melhor acreditar.
Quantos mais não receberam a mesma mensagem? E quantos tolos não a continuarão procurando?
De que adianta ter alguma coisa em nossa frente enquanto estamos cegos? Não são avisos que nos farão ver. Existem por aí pilhas deles. Cego de mim, não enxergo patavinas.

Talissa Santana.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

E, Se

Trancada em correntes , fico pensando como seria, e se naquela noite você tivesse olhado para trás, e se naquele instante você tivesse visto que meus olhos derramaram as lagrimas mais pesadas e ficaram mais escuros do que nunca.
O que teria feito?
Duas palavras tão distintas, porém quando se juntam tem o poder de mudar uma história.
E, Se
E se, e se você tivesse desistido das escolhas fracas e passageiras e permanecesse ao meu lado?
Pois naquela hora, me sentia tão fraca que mal poderia respirar ao realizar que sua escolha não  era  minha.
E se, e se você tivesse  resistido e ido contra os ventos contrários?
Lembra que eu te pedi isso?
Para nunca deixar nosso amor sofrer, prometemos cuidar dele, prometemos.
"Nunca quebre suas promessas", "nunca quebre suas promessas". Foram os únicos sons que consegui ouvir enquanto ainda me sentia anestesiada.
Sou tomada por um torpor que me impede de ser forte.
No meio da noite, arrastando correntes trancafiada em meu mundo, me perdi de mim.
Já não me sentia insensibilizada, apenas fraca, extremamente fraca ao perceber que tudo está por um fio, se não nos propomos a cuidar do nosso jardim, quem o fará por nós?
O problema é que nosso jardim nem sempre é só nosso, requer cuidados alheios, é terceirizado. Não depende de nossa delicadeza somente.
Foi assim, e, se, e se, nos perseguindo, tenho uma pequena idéia do que seria se esse "e se!" tivesse procedido ante nós, serviria como um mural protetor, nada passaria, somente eu, você, nosso amor.

E, se.

Mas quem sou mesmo?

Eu quero tanto chorar. Eu não sou mais criança e durmo com a cabeça coberta. Eu sou adulta e gostaria que você me colocasse no colo. Eu sou mulher e gosto de comer pipoca no cinema, na verdade, eu amo cinema. Eu sou criança , mas tenho tantas responsabilidades, e elas não param de se multiplicar.
Existem momentos do ano é possível colocar sua mão em meu peito e atravessá-lo. É porque eu viro como um espectro e sombra, um sonho de mim mesma, uma reinvenção. Daí eu pego em sua mão e você pode atravessar a carne e o músculo e procurar o pequeno beija-flor asmático, como a dona dele. Ele tanto bate, tum-tum-tum, quanto tosse,culpa dos cigarros que nunca fumou.
Desse modo, você se assusta, larga o pequeno pássaro um tanto quanto sem jeito, e ele fica sem graça em sua falta de perfeição e beleza. Ele quer ser belo, e não consegue. Logo ele, que devia ter tanta graça, agora nem sabe direito se é pássaro, se é vida, se é amor, se é vazio, se é o que é que se é.
Faz assim, dê a volta, como se o mundo fosse essa avenida até o seu fim, e de lá grite meu nome para que então eu tente ouvir. Entre todas as pessoas, que falam e esquecem, entre todos os carros que não têm para onde ir, entre todo esse caos que é o mundo às nove da manhã, eu ainda desejo te ouvir.
E me diz, por favor, você que já andou o mundo e chegou até o fim, se é verdade que existem monstros horríveis aí, ou se eles estão todos atrás de mim, no meu quarto, no meu armário e embaixo da cama.
Diga logo, me ajude, eu não consigo te ouvir, o pássaro se assusta e pode me levar embora, eu tento pegá-lo e não consigo.
Hoje eu sou de carne e músculo.
Tum! É só um carro que atropelou a vida.


Talissa Santana

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Sendo criança, descobri o amor.

Os horários e a loucura do dia-a-dia não servem de desculpa pra não ver a vida como uma criança. O cansaço, o stress e a rotina são inerentes à atividade. Eles moram em você. E mesmo viajando pro outro lado do planeta vão continuar guiando a sua visão de mundo, se você não se dispuser a enxergá-lo como criança. Organizar uma viagem está entre as atividades mais estressantes, concorrendo com estudar para uma prova ou esperar o resultado do vestibular. E não é de nada disso que é feita a vida de uma criança.
Levar uma vida de criança é saber que malas podem se perder pelo caminho, o tempo às vezes vai fechar e algumas rotas vão ter que ser alteradas por isso. O mundo vai parecer um lugar injusto e você vai se desiludir com o ser humano. Pra depois perceber que são os contratempos que te ensinam a se organizar melhor pra próxima aventura, e que é deles que são feitas as melhores histórias.
É, ao acordar, decidir em qual parte do dia você vai tirar férias. Se vai se transportar pra outro continente provando uma comida diferente, ou pra dentro de uma outra vida escutando a história da copeira ou do taxista com todos os ouvidos do mundo. Também é pular de um lado pra outro da casa, escorregando nas meias e cantando em alto e bom som a música da galinha pintadinha,ou outra música que faça seu coração pular.  Olhar pra todos os lados antes de atravessar, por segurança, mas também sempre antes de seguir em frente, por curiosidade.
Pra quem criança pela vida, o amor é verão. Daqueles que a gente anda bobo apaixonado pela praia, um frescor quentinho de brisa no rosto. Aperta forte a mão como pra segurar aquele amor pra sempre, e sabe que aquilo é muito mais importante do que saber se ele gosta de coldplay ou não.
Assim como na hora de planejar um roteiro, as crianças sabem que algumas pessoas são seus destinos, enquanto outras são só passagem. Uma baldeação entre um momento e outro da vida. Um encontro ao acaso. Uma surpresa grata ao dobrar uma esquina errada porque se perdeu dos pais.
E existe um número finito de itens que se combinam para formar um destino com alguém. Mas há que se prestar atenção nos detalhes. Um sabor novo. Um cheiro que parece velho conhecido. O ritmo. Aquele sinal em um lugar escondidinho, desbravado por você. O acento diferente no final das frases quando a pessoa escreve. E quando o conjunto dessas coisas despertarem a vontade de aguçar o ouvido para aprender e entender mais sobre esse outro alguém, é bem provável que tenha se deparado com uma pessoa que fará parte do seu destino. Porém, é necessário ser criança para descobrir essa pessoa.
Ser criança é ter pra onde voltar depois de uma jornada. Mas não por isso perder o apetite de baldear por novos mares. Ter pra onde voltar, aliás, é o que diferencia uma criança de alguém que vaga aleatório pelo mundo.
É saber que o que se leva na bagagem da ida é muito menos importante do que os souvenires que trazemos no coração na hora da volta. Que no fim das contas são essas as coisas que vão enchendo a mochila do mickey que a gente carrega sempre junto da gente, enquanto segue viajando.

Talissa Santana.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Do que aprendi.

Do que aprendi

Sempre gostei de sonhar,me encontrava assim. No avesso. No final de todas as minhas emoções nascia pura novamente. Para mim o tanto que me apresentavam nunca era o bastante. Eu era tão limitada e tão fluida que me choquei nas bordas da minha própria existência.
Nessas bordas eu encontrei o inacessível calabouço de quem não se contenta em sonhar.
Se eu voasse você alçaria vôos comigo? E se você não conseguir eu ficarei na terra procurando uma maneira de trazer o céu.
Mas isso não me bastaria,já que sou humana e me machuquei lá no fundo quando você não quis ousar.
Andei um pouco na poeira e em desertos,sertões solitários. Lá no silêncio árido,pude realizar alguma beleza infinita.Vi alguns sonhos acordados. A lágrima que teimava em cair,secou. Me tornei antiga e mais sábia,porém mais nova não pudera ser.


Talissa Santana

























quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Seus olhos

Amor, vamos revirar as ruas por aí. Andar por elas ao contrário. Com as verdades estampadas na testa. Para que todos vejam o que realmente somos. Sem filtros. Ou talvez, uma peneira, com pequenos furos, por onde a claridade possa passar. Assim, irradiando o que sentimos. Inconstâncias, não existem dentro de mim. Sei o que tenho, sei o que quero, você, apenas. Ou sei. Apenas não mostro. Não vamos esconder tudo. Guardemos para o mundo. Percebo que compartilhar vale a pena. Nos apequena a mesquinhez. Sabemos o que somos. Queremos mais. O que nutre nosso espírito não encontramos figurado. Vai além. Desperta outros sentidos. Aqueles que sentimos quando estamos juntos. Estão trancafiados. Guardados a sete chaves. Pois são precisosos demais, os mais importantes para mim. O que buscamos não é insólito, apesar do que dizem. Somos  compatíveis. Sei muito bem disso, pois falo com quem me ouve pacientemente. Sem muito ter que explicar. Sem muito ter que perguntar. Eu sei, bem demais, você me conhece, já te conheço. Poderia entrar na tua casa, colocar todas as músicas que tu gostas. Dançaríamos a nossa dança.  Juntos. Por tempo suficiente desfrutaremos momentos nossos. Seguros de nós mesmos, criamos algo nosso. Na minha casa, na sala onde não tem cortinas. Ignorando os vizinhos. Somos assim. Não nos importamos com a opinião alheia. Sabemos o que sentimos quando nos olhamos. Trocamos palavras pelos olhares.  Não preciso te explicar nada. É assim, simples, indolor. Sem calmantes ou analgésicos. Contigo a vida flui. Quase sem palavras me fazes rir. Quando fala, meus olhos se iluminam, amo ouvir-te. Sou leve agora. Nos sorrisos que trocamos esquecemos o peso do mundo. O mundo não tem graça sem o seu olhar radiante. Achamos ridículo, de certa forma, conseguimos ficar irritados, com as mazelas do mundo, com as pessoas ruins e arrogantes, as quais nunca nos tornaremos. Reclamamos. Dois minutos de silêncio. Nos olhamos, caímos na gargalhada. Apenas tu tens o poder de me virar do avesso. Eu te amo por completo, e quero absorver tudo do amor da minha vida pelo resto dos meus dias. Te amo meu príncipe!

Talissa Santana